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Lauana Prado desabafa sobre preconceito e assédio no sertanejo

A cantora sertaneja Lauana Prado foi uma das participantes do podcast do Movimento Country e revelou detalhes sobre preconceito e assédio na música sertaneja

O segundo episódio do podcast do Movimento Country chegou com tudo! Após muito sucesso no primeiro, falando sobre a vida e obra de Marília Mendonça com a participação de Paula Fernandes, Roberta Miranda e Juan Marcus e Vinícius, os apresentadores Hedmilton Rodrigues e Hernane Freitas se dedicaram a falar sobre a força da mulher na música sertaneja com uma das maiores representantes do feminejo na atualidade: Lauana Prado.

Uma das mulheres mais fortes da música sertaneja, Lauana Prado veio conquistando seu lugar na indústria musical aos trancos e barrancos nos últimos anos. Tendo estourado com “Cobaia“, a artista é uma das principais representantes do gênero atualmente, já chegando até a ser considerada a sucessora da Marília Mendonça, algo que ela já disse não se colocar neste lugar, já que “Marília ainda é a maior”.

Em sua presença no podcast, Lauana Prado abriu seu coração sobre todos os aspectos de sua carreira de quase 18 anos, que começou muito cedo no Tocantins e depois passou a ser trabalhada em Goiânia, berço da música sertaneja. Neste período, muitas dificuldades marcaram sua trajetória e a fazem lembrar, com carinho, do quanto batalhou para chegar até aqui:

“Eu sou uma artista que passou por todo o processo doloroso para conseguir alcançar um lugar de referência […] No nosso meio musical, na música brasileira, não temos muito muitos recursos. Infelizmente não temos um apoio de base dentro do âmbito artístico como nos Estados Unidos e na Europa. A gente tem que buscar por esses recursos, sabe?”, começou Lauana Prado.

“Eu comecei cantando em bar, vivi muita dificuldade financeira por conta dos cachês que eram muito baixos. As possibilidades eram muito escassas, então era viver de sonho, né? Eu falo que eu vivi de sonho durante muitos anos, tenho quase dezoito anos de carreira e pelo menos doze desses dezoito foram de muita luta, de muita busca, resiliência, aquela situação horrível que é querer cantar e não ter grandes possibilidades”, destacou a artista.

“Eu fui criada no Tocantins, que é um estado muito novo e tem poucas poucas possibilidades, então eu tive que voltar pra Goiás, na minha cidade natal que é Goiânia, e fiquei nesse trânsito por uma necessidade e vontade de fazer acontecer. Então eu vivi dificuldade financeira consequentemente. Eu não posso dizer que eu passei fome porque graças a Deus eu tive um suporte muito muito legal da parte da minha mãe, especialmente. Ela batalhou junto comigo”, completou Lauana Prado.

Inspirada por muitas mulheres, Lauana Prado tem em seu DNA musical referências de grandes nomes da história da música sertaneja, que vão desde Inezita Barroso, Roberta Miranda, Sula Miranda, Paula Fernandes e Marília Mendonça, todas que marcaram gerações no gênero. Essas mulheres a encorajaram a seguir adiante apostando em sua autenticidade, onde hoje já serve de inspiração para muitos outros artistas:

“Olha, é uma responsabilidade, né? Muito grande. Um dia fui uma menina que foi influenciada por todas essas cantoras incríveis que a gente acabou de falar. E hoje eu estou aqui nesse lugar de não só de influenciar, mas de escrever um pouco da minha história, contribuir com a minha arte pra pra pra música sertaneja e isso requer compromisso, e comprometimento, que é o que eu venho fazendo ao longo da vida”, disse.

“Gosto da possibilidade de fazer com que as pessoas entendam a minha maneira de fazer música e de interpretá-las, com certeza é um marco pra mim, uma honra muito grande fazer parte desse grupo seleto de mulheres e com tanta expressão, né? Eu sou uma artista que gosto muito de trazer algo que diferente do que já fiz, autêntico, e acredito que que isso também vai poder reverberar positivamente pras próximas gerações que virão”, destaca a sertaneja.

As dificuldades da mulher na música sertaneja

(Foto: Fábio Ponce)
(Foto: Fábio Ponce)

Se hoje o feminejo é um dos gêneros mais consumidos e respeitados do Brasil, muito se deve à luta diária de muitas mulheres que se colocaram em evidência em um gênero dominado por homens e que serve de palco para piadas preconceituosas, machismo e até assédio.

Quanto à isso, Lauana reflete: “Eu apareci na cena da música sertaneja fazendo músicas pra homens cantarem. Usava o discurso masculino, com o pronome sempre no masculino. Muitas vezes a gente vinha com ideias de músicas que eram até com um sentimento mais feminino, aí o pessoal falava ‘ah, mas isso não vai vender, não vai dar certo’ e realmente durante muito tempo não existia um discurso feminino dentro da música sertaneja”.

A cantora também desabafou sobre situações de machismo e abuso que sofreu dentro do cenário sertanejo: “E sim, sofri com muito machismo. As vezes a gente era depreciada, ouvia: ‘é bonitinha mas não sei, acho que não vira nada’, eu cheguei a ouvir da minha família: ‘vai cantar outra coisa, mulher não vira no sertanejo, não dá certo’. E dentre outras situações desconfortáveis que eu vivi né? De até mesmo de um certo abuso por parte de homens que se dizem donos do mercado, faziam comentários maldosos sempre linkando a questão da aparência”.

“‘Porque você tem que ficar com fulano, com beltrano’, coisas assim inadmissíveis, sabe? Que hoje a gente entende que não são práticas comuns. Então eu tive, infelizmente, que viver certas situações. Com a competência do meu trabalho eu nunca tive que apelar pra essas coisas para ter um espaço e uma visibilidade, graças a Deus tudo convergiu pra acontecesse do jeito que que aconteceu. Hoje eu sou muito respeitada e querida por muita gente do nosso segmento. Inclusive com muitos homens”, comenta Lauana Prado.

A cantora sertaneja também relembrou momentos dolorosos vividos nos bastidores: “Esses homens tiveram que dar o braço a torcer, que morder a língua. E coisas horríveis que a gente chegou a ouvir. Tipo: ‘ser humano que que sangra não faz sucesso’. Isso é um absurdo. E hoje acho que a gente avançou bastante, mas sim sofri muito preconceito, cheguei a sofrer abuso verbal. Até mesmo na intenção de um abuso físico, onde eu tive que me impor para realmente não me colocar numa situação ruim. Deu tudo certo graças a Deus e acho que a gente agora está caminhando pra frente”, encerrou Lauana.

Ouça o podcast completo logo abaixo – e spoiler: está imperdível!



Fonte: Movimento Country

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